sexta-feira, 26 de março de 2010

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO CORPORAL NO PROCESSO ARTETERAPÊUTICO


CORPO EM SEGREDO

Meu corpo guarda segredos
nele se escondem
minhas verdades,
meus desejos.

Minhas mãos contam histórias
e meus pés a trajetória.
Minha mente revela
o que guardo na memória.

Meu corpo é obra criada
da criatura mais elevada,
por isso carrego nele
das coisas mais puras às sagradas.

Mas mesmo assim
sou imperfeito.
Levo comigo dores no peito.
E me mostro à humanidade,
quando careço de afetividade.

É dura então ver caída a máscara.
E enxergar a realidade.
É nesta hora que me apresso
em buscar minha identidade.

Josiane Paraboni

Nosso corpo revela nossa personalidade, guarda memórias e expressa nossas vontades e desejos. É a forma de expressão mais pura e verdadeira daquilo que trazemos, pensamos e sentimos no decorrer de nossas vidas, como a tela de um filme onde ficam gravadas nossas experiências, vivências, nossa história.

Segundo Reich, formamos couraças musculares a partir das experiências e traumas que vamos vivendo, enrijecendo nosso corpo e gerando bloqueios, impedindo que a energia flua naturalmente, diminuindo em consequência disso, nossa energia vital.

A diminuição da oxigenação nos tecidos por sua vez, leva a estase energética, mantenedora da tensão que mais tarde torna-se inconsciente e perpetua a neurose. Estase – termo utilizado por Reich e adotado por seus seguidores – implica numa redução da circulação sanguínea que altera a oxigenação nos tecidos, enrijecendo-os e gerando bloqueios. É o processo inicial do que Reich chamou de encouraçamento.(VOLPI, 2003,p.15)

Contudo, na medida em que nos vamos trabalhando, nos conhecendo melhor e tomando uma maior consciência corporal de nós mesmos, eliminamos as couraças e deixamos o corpo seguir seu fluxo de energia livremente. Este processo faz parte do autoconhecimento e desenvolvimento pessoal, onde a pessoa busca a si mesma, valorizando-se e cuidando do próprio corpo, reintegrando o seu próprio ser à totalidade: corpo, mente, energia e espírito. Segundo Lola Brikman,

O movimento constitui uma unidade orgânica de elementos materiais e espirituais que se integram numa totalidade.


(...) sua prática leva à manifestação da personalidade, a um conhecimento e uma consciência mais completos, para fora e para dentro de si mesmo e, enfim, a uma comunicação fluida, capaz de promover uma profunda transformação da atitude básica da personalidade.( BRICKMAN, 1989,p.16)

Desta forma, para que aconteça este processo de busca, de autoconhecimento e de desenvolvimento, é que o trabalho de arteteterapia vem a contribuir aliado à diversas técnicas corporais, normalmente utilizadas, durante o trabalho arteterapêutico, para que a pessoa saia do processo extremamente racional em que está, logo que chega para o atendimento, e passe para um estado maior de relaxamento e consciência corporal, deixando vir à tona no momento da expressão plástica expressiva: sentimentos, sensações e desejos que estão no inconsciente, como um verdadeiro espelho da alma, onde é refletido o conteúdo interno que está mais latente no íntimo de cada pessoa. Jung já dizia que através da expressão destes registros e conteúdos, é que podemos nos ver e nos perceber de forma diferente, retirando nossas máscaras e nos conscientizando de quem realmente somos.

Algumas das técnicas corporais que podem ser utilizadas junto ao trabalho de arteterapia são: relaxamento, yoga, biodança, expressão corporal e as brincadeiras infantis. Cada uma dessas técnicas exerce uma determinada função que seja melhor para cada caso ou situação.

O relaxamento aliado à respiração provoca um enorme bem estar, proporcionando paz e equilíbrio interno, trabalhando questões emocionais e psíquicas de uma forma tranquila e saudável.

A prática de posturas no Yoga, chamadas asanas, traz um equilíbrio físico e mental, proporcionando uma sensação de paz e leveza no corpo. De acordo com Irene Arcury, psicóloga e arteterapeuta:

Essa imobilidade corporal provoca um silêncio mental ampliando a consciência de si mesmo proporcionando um efeito extremamente calmante. (ARCURY, 2006, p.88)



A biodança e a expressão corporal promovem um contato maior consigo mesmo, expressando através do corpo: vontades, desejos, idéias e pensamentos.

Ao dançarmos, recriamos o mundo abrimos novas possibilidades, sentimos prazer e gratidão por ter nosso veículo. (ARCURY, 2006, p.90)

As brincadeiras infantis resgatam nossa criança interior resgatando a alegria de viver, nos levando de volta ao mundo da imaginação e da criatividade.

Por meio das brincadeiras, reeditamos nossa vida de forma
prazerosa. (ARCURY, 2006, p. 91)


Assim como as técnicas corporais exercem determinada função durante o processo de busca e autoconhecimento, na arteterapia, as técnicas expressivas plásticas como: o desenho, a pintura, a mandala, a argila e a colagem também desenvolvem determinado papel.

O desenho e a pintura, através dos gestos e das cores possibilitam a reestruturação do mundo interno, pois trabalha o concreto, a ação e a percepção. A pessoa expressa o que está sentindo, revelando formas, desejos e conteúdos do inconsciente, revelando-se a si mesmo, e possibilitando, uma sensação de descarga de energia, por sair do plano excepcionalmente mental indo para o concreto. Promovendo a liberdade de expressão e a revelação do próprio ser.

A mandala reorganiza nossa psique relaxando nossa mente, trazendo equilíbrio interno.

Ao pintar mandalas, a mente entra em um estado de relaxamento no qual as experiências traumáticas, os medos e as tensões podem ser transformados; seu efeito tranqüilizante concentra as energias.
( ARCURY, 2006,p. 85)

O trabalho com a argila promove uma experiência tanto tátil quanto sinestésica, pois ao seu contato, a pessoa busca sensações, modelando e expressando vivências e conteúdos internos.

A colagem permite simbolicamente a reconstrução de algo novo, o desfazer e o refazer, resignificando de uma forma simbólica, a própria vida.

Partindo desta prática e estudo, posso concluir que o trabalho corporal e a arteterapia formam juntos um grande elo no processo de busca, de autoconhecimento e transformação pessoal, pois, como já mencionamos, à medida que deixamos vir à tona conteúdos, memórias e registros internos, tomamos consciência de que o nosso corpo faz parte de um todo, e de quem realmente somos. Modificando assim, nosso dinamismo psíquico, proporcionando uma mudança interna de paradigmas e comportamentos, gerando a transformação e reestruturação do próprio ser.


BIBLIOGRAFIA:


BRIKMAN, Lola. Tradução de Beatriz a. Cannabrava. A Linguagem do movimento corporal. São Paulo: Summus, 1989.

ARCURY, Irene Gaeta. Memória Corporal: o simbolismo do corpo na trajetória da vida. 2ed. São Paulo: Vetor, 2006.

VOLPI, José Henrique. VOLPI, Sandra Mara. Reich: a análise bioenergética. Curitiba: Centro Reichiano, 2003.

domingo, 21 de março de 2010

LUIZ GUIDES - dezessete anos produzindo arte


Por Mara E. Weinreb
Luiz Guides, artista e residente do Hospital Psiquiátrico São Pedro, completou no último dia 20 de agosto de 2007, 80 anos de idade.
Data que foi devidamente lembrada pela Oficina de Criatividade, junto ao artista e sua obra.
Resistindo ao impossível, mesmo exilados, sua presença se impõe. Ir a estes tristes lugares, manicômios, periferias, alienação e esquecimento, lá temos arte em meio a incertezas e dúvidas, que se instaura no estranhamento de uma silenciosa ousadia. Buscar pelo não realizado, pela necessidade urgente de realizar, deslizar a tinta freneticamente, repetidamente, pintar e pintar até cansar, cansar o manicômio em seu torpor, de intervenções, ações... Marginal e obtuso, o artista pede um olhar desviante, que nos leva a ver de modo largo, inclusivo e questionador, onde estranhos atores passam a ser participantes, mesmo nestes tristes lugares, de exclusão e de não ser, não ser cidadão.



Assim encontramos Luiz Guides, com uma obra que joga com a surpresa e com o inusitado, provocando os sentidos e os conceitos nas artes. Com uma grafia muito particular, os signos vão compondo uma espécie de “escritura das revelações”, parafraseando Foucault (2002), quando números, círculos, flechas, cruzes e demais elementos são recobertos por azuis, verdes, violáceos ou vermelhos. Aqui texto é imagem, vertiginoso ou sonhado, por vezes, quase desaparece, retornando em outro momento, em um espaço incerto e flutuante, referido por Klee (2001), com suas diferenças próprias.



Luis Guides é morador do Hospital Psiquiátrico São Pedro de Porto Alegre, desde 1950, e um dos mais antigos freqüentadores da Oficina de Criatividade do hospital. A implantação da Oficina, no ano de1990, muito se deveu a iniciativa da psicóloga Bárbara Neubarth, seguindo a idéias de Nise da Silveira, seus freqüentadores são estimulados a se expressarem através das tintas, em um local de acolhimento e natural aceitação.
Estudando o acervo de Guides, percebemos que, inicialmente as cores surgiam sobre o papel em uma vertiginosa profusão caótica, e depois mais geométrica, com disposições retangulares. Sua arte clama por um estado atual, ou melhor, “inatual”, com uma independência entre as pinturas, ao mesmo tempo em que são preservadas relações entre si. Surgem séries de pinturas com elementos que se repetem, mas em se repetirem, produzem variações, dando às suas pinturas intensidades cromáticas únicas, que sem uma intenção consciente, revelam extensos painéis.



As disposições retangulares na obra de Guides são chamadas por Rosalind Krauss (1996) de retículas, prenderem os verdes, os azuis, como sua preciosa escritura, ao mesmo tempo em que, tornam-se linhas de fuga, estendendo-se além do suporte. Luiz Guides está entre a linha e a mancha, e se quisermos seguir literalmente Wolfflin (2000), entre o linear e o pictórico, o que nos remete a pesquisa de Ingrid Geist (2005 com os povos Huicholes da Serra Madre Ocidental do México, relacionando este processo artístico com o tema mítico “Tempo de escuridão”, o borrar e traçar sucessivamente sobre marcas visíveis são identificadas com o “tempo da luz”, que com sua aceleração é comparada a uma força desestruturante de relação tensa, e a lentidão construtiva se refere a uma potência estruturante, que reconstitui o espaço e o tempo. Assim Guides, organiza-se em retângulos e círculos, e ao encobri-los com camadas de cores obscurecem seus segredos, subterrâneos e insondáveis, preservados e protegido,s agora, dos olhares de um mundo alheio a suas ações.
Ante a folha branca observamos uma fileira numérica, iniciando com o número um e variando até chegar ao número sete, na metade inferior da folha, a seguir, divide o espaço com linhas horizontais e depois com verticais, por vezes coloca círculos e espirais nos retângulos inferiores, e por vezes os distribui por todos os retângulos. Esta disposição geométrica recebe cruzes, flechas e pequenos riscos sobre as linhas que dividem os espaços do papel. Sua mão parece deslizar, tomando meia distância do pincel, como uma dança, ou melhor, com passos e compassos musicais. Suas pinceladas começam a surgir, como que sabendo o rumo a tomar, firmes e determinadas segue até alcançar a finalização. Dando-se por satisfeito, Luiz levanta-se e fica por alguns instantes em pé, junto ao cavalete, em silêncio mostra-nos que está pronto para voltar à sua unidade, quando não é o caso, sinaliza que deseja mais uma folha, e recomeça outra vez. Estas etapas vêm se repetido por anos, como um gesto ritual, com pequenas variações. Ante a estes processos de relações inconscientes podemos falar de uma desrazão que irrompe os limites de uma loucura, que agora não tem vez.



Vemos nossa proposta como uma denuncia de um mal-estar, um mal-estar que desacomoda e instiga este olhar à margem. Rompem-se as certezas de um mundo cada vez mais globalizado, ou mundializado, que devora os produtos e narrativas locais, realocando-os em lugares de consumo, esta visão sobre as periferias marginais tem aumentado à medida que acontece uma tendência à homogeneização. Agora, destes estranhos territórios, entremeios, lugares possíveis, margens, entre muros não consagrados, uma produção artística avança, ousando por campos já semeados, e hierarquizados, negociando sua diferença, ao interagir com processos contemporâneos em arte, compondo narrativas no espaço do manicômio que lhe serve de suporte, ateliê e acervo, pleno de sentido.
Referências:
• FOUCAULT, Michel. Isto não é um cachimbo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
• KLEE, Paul. Sobre a arte moderna e outros ensaios. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
• KRAUSS, Rosalind. La Originalidad de la vanguardia y otros mitos modernos. Madrid: Alianza, 1996.
• www.visio.fr. Ingrid Geist: El tiempo de la oscuridad: borrar y trazar lo visible, vol. 7, no 3-4.2005.
• WOLFFLIN, Henrich. Conceitos fundamentais da História da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
Mara E. Weinreb é psicóloga e especialista em Psicoterapias Humanísticas Existenciais pela PUCRS.
Mestre e doutora em História, Teoria e Crítica da Arte, no Instituto de Artes da UFRGS.
Atualmente realiza pesquisa junto ao acervo do artista Luiz Guides. Docente da Feevale.
---------------------------
Copyright 2007. Revista Museu. Todos os direitos reservados.
>> Clique aqui para fazer um comentário.

segunda-feira, 8 de março de 2010

MITOLOGIA EM NOSSAS VIDAS




A mitologia como a própria palavra nos parece dizer, não é algo tão arcaico e distante de nós, ela continua viva no dia a dia de nossa vida quer tenhamos consciência dela ou não, pois, sempre que queremos nos tornar um herói, uma princesa ou qualquer personagem mitológico inconscientemente, dissolvemos num arquétipo, uma identidade maior do que nós mesmos. Essas estruturas míticas, ou arquetípicas, como podem chamar são as que muitas vezes, dão origem aos nossos valores, pontos de vista, emoções e comportamentos.
E embora, não tenhamos esta consciência, os mitos aparecem mesmo assim, de diversas formas, seja:

1. numa experiência espontânea de criação de mitos: como num sonho, numa idéia ou pensamento;
2. em nossos sentimentos, pois os mitos estão guardados em nosso corpo, numa projeção ou numa situação que já parece ter acontecido;
3. por meio de um sistema de crenças: “Há um Deus terno que cuida de mim”;
4. num problema de relacionamento ou de socorro: “ Meu herói”;
5. em padrões de comportamento inconscientemente ritualizado ou repetitivo como nos melodramas, por exemplo.

Segundo Jung, o mito pode ser considerado Universal, quando surge do inconsciente coletivo, ou seja, de conteúdos arquetípicos herdados da humanidade, e Pessoal, quando aparece de imagens do inconsciente pessoal, ou seja, de conteúdos que registramos e trazemos desde o nosso nascimento.

Como podemos ver, a mitologia está muito presente em nós, podendo vir especialmente à tona nos trabalhos de Arteterapia, já que por muitas vezes, imagens mitológicas aparecem de uma forma simples e espontânea durante as atividades arteterapêuticas.

segunda-feira, 1 de março de 2010

ATIVIDADES DA CLÍNICA CRIARSE - Atendimento Individual e em Grupo

RELAXAMENTO E MEDITAÇÃO
Objetivo: aliviar sintomas de stress, ansiedade e hipertensão através de técnicas de relaxamento.
ENCANTANDO MEU VIVER
Objetivo: relaxar, descontrair vivenciando a criança interior.
EXPRESSANDO
ATIVIDADES PARA CRIANÇAS E JOVENS
Objetivo: focalizar a energia na criatividade e na expressão.
DESENVOLVENDO O POTENCIAL CRIATIVO
Objetivo: desenvolver o autoconhecimento e a promoção pessoal.