domingo, 25 de abril de 2010

A Importância do Trabalho Coproral no Processo Arteterapêutico

Nosso corpo revela nossa personalidade, guarda memórias e expressa nossas vontades e desejos. É a forma de expressão mais pura e verdadeira daquilo que trazemos, pensamos e sentimos no decorrer de nossas vidas, como a tela de um filme onde ficam gravadas nossas experiências, vivências, nossa história.

Segundo Reich, formamos couraças musculares a partir das experiências e traumas que vamos vivendo, enrijecendo nosso corpo e gerando bloqueios, impedindo que a energia flua naturalmente, diminuindo em consequência disso, nossa energia vital.

A diminuição da oxigenação nos tecidos por sua vez, leva a estase energética, mantenedora da tensão que mais tarde torna-se inconsciente e perpetua a neurose. Estase – termo utilizado por Reich e adotado por seus seguidores – implica numa redução da circulação sanguínea que altera a oxigenação nos tecidos, enrijecendo-os e gerando bloqueios. É o processo inicial do que Reich chamou de encouraçamento.(VOLPI, 2003,p.15)

Contudo, na medida em que nos vamos trabalhando, nos conhecendo melhor e tomando uma maior consciência corporal de nós mesmos, eliminamos as couraças e deixamos o corpo seguir seu fluxo de energia livremente. Este processo faz parte do autoconhecimento e desenvolvimento pessoal, onde a pessoa busca a si mesma, valorizando-se e cuidando do próprio corpo, reintegrando o seu próprio ser à totalidade: corpo, mente, energia e espírito. Segundo Lola Brikman,

O movimento constitui uma unidade orgânica de elementos materiais e espirituais que se integram numa totalidade.


(...) sua prática leva à manifestação da personalidade, a um conhecimento e uma consciência mais completos, para fora e para dentro de si mesmo e, enfim, a uma comunicação fluida, capaz de promover uma profunda transformação da atitude básica da personalidade.( BRICKMAN, 1989,p.16)

Desta forma, para que aconteça este processo de busca, de autoconhecimento e de desenvolvimento, é que o trabalho de arteteterapia vem a contribuir aliado à diversas técnicas corporais, normalmente utilizadas, durante o trabalho arteterapêutico, para que a pessoa saia do processo extremamente racional em que está, logo que chega para o atendimento, e passe para um estado maior de relaxamento e consciência corporal, deixando vir à tona no momento da expressão plástica expressiva: sentimentos, sensações e desejos que estão no inconsciente, como um verdadeiro espelho da alma, onde é refletido o conteúdo interno que está mais latente no íntimo de cada pessoa. Jung já dizia que através da expressão destes registros e conteúdos, é que podemos nos ver e nos perceber de forma diferente, retirando nossas máscaras e nos conscientizando de quem realmente somos.

Algumas das técnicas corporais que podem ser utilizadas junto ao trabalho de arteterapia são: relaxamento, yoga, biodança, expressão corporal e as brincadeiras infantis. Cada uma dessas técnicas exerce uma determinada função que seja melhor para cada caso ou situação.

O relaxamento aliado à respiração provoca um enorme bem estar, proporcionando paz e equilíbrio interno, trabalhando questões emocionais e psíquicas de uma forma tranquila e saudável.

A prática de posturas no Yoga, chamadas asanas, traz um equilíbrio físico e mental, proporcionando uma sensação de paz e leveza no corpo. De acordo com Irene Arcury, psicóloga e arteterapeuta:

Essa imobilidade corporal provoca um silêncio mental ampliando a consciência de si mesmo proporcionando um efeito extremamente calmante. (ARCURY, 2006, p.88)



A biodança e a expressão corporal promovem um contato maior consigo mesmo, expressando através do corpo: vontades, desejos, idéias e pensamentos.

Ao dançarmos, recriamos o mundo abrimos novas possibilidades, sentimos prazer e gratidão por ter nosso veículo. (ARCURY, 2006, p.90)

As brincadeiras infantis resgatam nossa criança interior resgatando a alegria de viver, nos levando de volta ao mundo da imaginação e da criatividade.

Por meio das brincadeiras, reeditamos nossa vida de forma
prazerosa. (ARCURY, 2006, p. 91)


Assim como as técnicas corporais exercem determinada função durante o processo de busca e autoconhecimento, na arteterapia, as técnicas expressivas plásticas como: o desenho, a pintura, a mandala, a argila e a colagem também desenvolvem determinado papel.

O desenho e a pintura, através dos gestos e das cores possibilitam a reestruturação do mundo interno, pois trabalha o concreto, a ação e a percepção. A pessoa expressa o que está sentindo, revelando formas, desejos e conteúdos do inconsciente, revelando-se a si mesmo, e possibilitando, uma sensação de descarga de energia, por sair do plano excepcionalmente mental indo para o concreto. Promovendo a liberdade de expressão e a revelação do próprio ser.

A mandala reorganiza nossa psique relaxando nossa mente, trazendo equilíbrio interno.

Ao pintar mandalas, a mente entra em um estado de relaxamento no qual as experiências traumáticas, os medos e as tensões podem ser transformados; seu efeito tranqüilizante concentra as energias.
( ARCURY, 2006,p. 85)

O trabalho com a argila promove uma experiência tanto tátil quanto sinestésica, pois ao seu contato, a pessoa busca sensações, modelando e expressando vivências e conteúdos internos.

A colagem permite simbolicamente a reconstrução de algo novo, o desfazer e o refazer, resignificando de uma forma simbólica, a própria vida.

Partindo desta prática e estudo, posso concluir que o trabalho corporal e a arteterapia formam juntos um grande elo no processo de busca, de autoconhecimento e transformação pessoal, pois, como já mencionamos, à medida que deixamos vir à tona conteúdos, memórias e registros internos, tomamos consciência de que o nosso corpo faz parte de um todo, e de quem realmente somos. Modificando assim, nosso dinamismo psíquico, proporcionando uma mudança interna de paradigmas e comportamentos, gerando a transformação e reestruturação do próprio ser.


BIBLIOGRAFIA:


BRIKMAN, Lola. Tradução de Beatriz a. Cannabrava. A Linguagem do movimento corporal. São Paulo: Summus, 1989.

ARCURY, Irene Gaeta. Memória Corporal: o simbolismo do corpo na trajetória da vida. 2ed. São Paulo: Vetor, 2006.

VOLPI, José Henrique. VOLPI, Sandra Mara. Reich: a análise bioenergética. Curitiba: Centro Reichiano, 2003.


Josiane Paraboni-RS - Artigo publicado nos anais do Congresso de Psicoterapia Corporal de Curitiba/2009 - www.centroreichiano.com.br