terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Arteterapia e o Processo Criativo

Um aspecto importante quando conceituamos ou trabalhamos com Arteterapia é o processo criativo, visto que, através dos trabalhos plásticos durante o desenvolvimento do trabalho arteterapêutico, o indivíduo entra em contato com seu potencial criativo, com sua capacidade de criar e transformar. Esta força criadora é inata do ser humano e surge a partir de nossa imaginação, desejos ou necessidades. Jung já falava deste impulso criador natural do ser humano a partir da expressão plástica dos conteúdos internos, de imagens do inconsciente, chamando-o de instinto criativo. “Prefiro designar a força criativa como sendo um fator psíquico de natureza semelhante a do instinto” (JUNG apud WOSIACK e BLAUTH, 2007, p. 13).
Este impulso, esta força criadora está certamente aliada à nossa sensibilidade, às percepções e às relações com o mundo interno e externo, bem como, a uma necessidade ou à receptividade que cada um tem, visto que a criatividade se revela à medida que vivenciamos este potencial e que nos abrimos para ele.

Receptivos, estamos atentos, prontos para agir. E nos momentos de inspiração, de insights, quando de repente se interligam sugestões, proposições, avaliações, emoções, e tudo se reformula, vêm-nos uma total presença de espírito e um sentimento de afirmação. Sentimo-nos ativos, e mais participantes do devir (OSTROWER, 1995, p. 19).

Com isso, ainda podemos ver a criatividade como um processo natural e espontâneo ao observar uma criança que desenha e pinta sua lousa ou seu papel de forma livre e solta, desprendida de qualquer limitação ou regra, e dizer então que a criatividade nasce a partir da liberdade de expressão, da sensibilidade e da imaginação ou do simples ato de fazer.
Neste sentido, Fayga Ostrower, em seu livro: Acaso da Criação (1995) fala sobre o processo criativo de dois grandes mestres da arte e da música como:

Wolfang Amadeus Mozart (1756-1791) - Quando estou só, inteiramente só, e de bom humor, digamos viajando numa carruagem, ou passeando depois de uma boa refeição, ou durante a noite quando não consigo dormir, é nestas ocasiões que as idéias fluem melhor e mais abundantemente. De onde vêm e como, nada sei, nem posso forçá-las.
Pablo Picasso (1880-1972) - “O importante na arte não é buscar, é poder encontrar”.

E complementa falando do acaso como um catalisador de potencialidades e de estímulos para a criatividade.

No instante mesmo em que o acaso surge em nossa atenção, já o imbuímos de conteúdos existenciais, ligando-o a certos desejos e esperanças, a uma razão íntima e plenamente significativa para o nosso ser ( OSTROWER, 1995, p. 7).

Baseado nisso podemos dizer que o maior acaso de nossas vidas é nossa própria existência, nossa própria criação e formação, logo nossas potencialidades, nosso modo de sentir e perceber o mundo e as sensações que ele nos oferece relacionando-o com os conteúdos internos que trazemos, faz-nos sair e ir em busca de outros acasos que nos tornarão seres mais capazes de criar e transformar.
Desta forma, Fayga Ostrower, considera a arte: [...] “um caminho válido para as pessoas se desenvolverem através de sua sensibilidade, conscientizarem-se e conhecerem a realidade de sua vida e a do mundo externo”(1995, p.12).

E com isso concluímos que, assim como na arte, o processo criativo é um fator de extrema importância nos trabalhos arteterapêuticos, pois auxilia no resgate e reconhecimento do potencial interno de cada um, da força criadora que todos temos, sendo capazes de transformar e modificar até mesmo a história de nossas vidas.

Este texto foi retirado da monografia:
ARTETERAPIA: UMA ATENÇÃO CRIATIVA FRENTE ÀS SINGULARIDADES HUMANAS - Autora: Josiane
que se encontra no acervo da biblioteca virtual da Universidade Feevale-
www.feevale.br